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O Artista
Erich Otto Blaich nasceu na Alemanha, em 1919, em Corres, próximo
à cidade de Oetisheim, na região da Suábia. Mudou-se
ainda jovem para Enzberg e ingressou da Escola Superior de Arte e Ofícios,
onde teve seu primeiro contato com a Antroposofia, através de Friedhild
Katz. Nessa época, conheceu também Margarete Steudle, que
seria sua esposa durante toda sua vida. Um de seus quadros retrata o rio ENZ que, vindo da Floresta Negra, passa pela sua cidade.
A atmosfera da guerra, em meados da década de 30, levou os jovens
artistas ao recrutamento militar. Blaich trabalhava na fabricação
de instrumentos de medição para aeronaves e submarinos,
em 1939, por isso foi recrutado apenas no ano seguinte. Durante a guerra,
exerceu a função de telegrafista do Exército alemão,
na Rússia e na Itália. Em abril de 1945 foi aprisionado
e trabalhou, primeiro, em minas de carvão, na França, perto de Paris e posteriormente,
numa propriedade agrícola. De lá fugiu com um amigo para
a fronteira alemã, onde pretendiam atravessar a nado o rio Reno.
Entretanto, a força das águas e o frio levaram seu companheiro.
Depois de ser ajudado por muitas pessoas e permanecer escondido, conseguiu
chegar a sua cidade natal, mas manteve-se clandestino ainda por vários
meses.
Com a melhoria da situação política, Blaich pode
retomar pouco a pouco suas atividades. Participou da reconstrução
da cidade vizinha de Pforzheim, que havia sido completamente destruída
com a guerra. Casou-se com Margarete e começou a trabalhar com
ourivesaria e artes gráficas.
Em 1952, decidem se mudar para o Brasil. Blaich desembarca em Santos
em novembro, para preparar o terreno para a vinda da esposa e dos três
filhos. Em São Paulo, trabalha com ourives e depois numa fábrica
de relógios, em Santo Amaro. Durante esta época fez projetos de relógios e aeronaves.
A fundação da Escola Waldorf Higienópolis de São Paulo - hoje conhecida como Escola Rudolf Steiner de São Paulo - em fins
dos anos 50, leva a família a um profundo envolvimento com a pedagogia
que já conheciam na Alemanha. Os filhos são matriculados
e Blaich é convidado a dar aulas de desenho, trabalhos manuais
e cursos noturnos. Os conhecimentos de ourivesaria, lapidação,
marcenaria, escultura, as técnicas de pintura, as ciências da geologia
e a profunda sabedoria do professor forjavam um momento mágico
e rico em descobertas para os alunos. Como um artesão que conhece
a essência de suas peças, Blaich esculpia em cada um, a força
e o caráter necessários a atividade artística e a
realização pessoal.
Depois de 17 anos de magistério foi chamado pelo Governo Brasileiro à fazer uma adaptação de sua licença de professor.
Cursou então um ano de artes na Faculdade Santa Marcelina onde recebeu, definitivamente, a licença para lecionar artes no país.
Durante vinte e quatro anos exerceu o magistério, aposentando-se
em meados dos anos 80, quando se mudou para Botucatu e foi um dos responsáveis
pela criação da Escola Rural Aitiara situada dentro da Fazenda Demétria, uma comunidade
antroposófica e de agricultura biodinâmica. Entre os fundadores da Fazenda Demétria estava seu filho, Jorge Blaich. No final dos
anos 90, viajou duas vezes à Suécia e Noruega, onde desenhou
com abundância as fascinantes paisagens nórdicas.
Desde a juventude, Blaich retratou o mundo a sua volta e desenvolveu
diversas técnicas, passando pela xilogravura, óleo, nanquim,
aquarela e, nos últimos anos, o giz. Avesso aos registros mecânicos,
como a fotografia e o vídeo, construiu um universo pictórico
próprio, evitando, até na vida doméstica, o uso freqüente
da câmera fotográfica. Seus quadros compõem um impressionante
painel do século XX, expressos na visão de um homem simples,
mas extremamente sensível. Entre paisagens e retratos, sua arte
figurativa expõem a natureza das cores, das formas e dos sentimentos
humanos.
Aos 84 anos, pinta regularmente na oficina de sua casa. Viaja pela região
da Bacia do Tietê e das cuestas paulistas à procura de novas
paisagens, explora o jardim e a pequena floresta de seu sítio,
retrata os homens comuns e a presença quase imperceptível
das forças misteriosas que nos acompanham.
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